Baralho: simbologia e comportamento

Baralho: simbologia e comportamento – Rodolfo Garcia Montosa
Publicado em 09.07.2012 no site www.institutojetro.com
“Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas; todas são lícitas, mas nem todas edificam.”   1 Coríntios 6.12; 10.23
Joguei muito baralho em minha adolescência. Não digo que não seja agradável e divertido. Contudo, quando tomei consciência do que passarei a compartilhar, decidi não mais me envolver com esse tipo de jogo que, a princípio inofensivo e distrativo, tem uma simbologia implícita e pode afetar comportamentos explícitos.
Um pouco sobre a simbologia
O verbo baralhar, ou embaralhar, significa meter a desordem em; desordenar; andar às bulhas ou em contestações; misturar-se; amotinar-se. Daí nasce o substantivo baralho, que traz o conceito de confusão, conflito, desordem.
As cartas do baralho possuem uma simbologia com intencional significado espiritual, muito embora sua precisa origem esteja carregada de mistérios e perca-se na história da humanidade. Segundo Win Malgo, o baralho mais comum dos dias de hoje foi criado no ano de 1392, para uso pessoal do rei Carlos da França, quando este sofria debilidade mental.

O criador das cartas era um homem degenerado e mau, que escarnecia de Deus e de seus mandamentos. Para sua criação maligna ele escolheu figuras bíblicas: o rei representa o diabo, a dama representa Maria, a mãe do Senhor. Assim, de modo blasfemo, fez do Senhor Jesus Cristo um filho de Satanás com Maria. Copas e ases representam o sangue de Jesus, o valete  o próprio Senhor. Paus e outros símbolos representam a perseguição e destruição de todos os santos. Seu desprezo pelos dez mandamentos foi expresso pelo número dez das suas cartas.

Mas a simbologia vai além. A origem da palavra naipe em português e espanhol vem do hebraico naib que quer dizer feitiçaria. A intenção esotérica tem sido comumente utilizada por cartomantes que o utilizam para prever o futuro e em diversas práticas de ocultismo. Dizem que cada detalhe tem um propósito: 13 cartas por naipe, mesmo número de ciclos lunares em um ano; preto e vermelho simbolizam dia e noite; 52 cartas no total, representam o número de semanas em um ano; 4 naipes correspondendo às 4 estações do ano; somando todos os valores das cartas, mais um que se atribui a um coringa solo, o resultado é 365, mesmo número de dias no ano.
Um pouco sobre o comportamento
No primeiro momento, é só brincadeira e diversão. Logo nascem as conversas tolas, mexericos, bisbilhotices sobre a vida alheia. O privado do outro torna-se a pauta: você sabe da última?
Os que se aprofundam pelo caminho das cartas facilmente tornam-se viciados nessa prática. Mesmo que só para diversão, passam a praticá-la semanalmente, a cada dois dias, ou até diariamente. Mal esperam a hora chegar do carteado. Abandonam seus relacionamentos, ficam desatentos ao que se passa ao redor, pois estão fixos na “diversão”.  Não percebem o  distanciamento progressivo da família e da própria vida.
Em termos gerais, um jogador de cartas é conhecido popularmente por ser manhoso, especulador, hipócrita, mentiroso, que camufla suas intenções, esconde seu jogo, suas cartas. Um golpista não confiável, que busca seus próprios interesses. Ao longo de seu desenvolvimento no mundo das cartas – e é evidente que não é só o baralho que capacita essas “virtudes” todas – aprendeu a adivinhar o jogo do adversário, buscando derrubá-lo em todo o tempo, ainda que com mentira, embuste, blefe, dissimulação.

Aprende a fingir, suprimir, dar a entender o que não é verdadeiro, estabelecendo uma cumplicidade com o parceiro em não revelar o “roubo” do outro. Entra em conluio para prejudicar os outros,  maquinando tramas para vencer. Não importam os meios, mas o fim. Tudo pelo crescente desejo insaciável de vencer, pois ninguém joga para perder.

O último estágio é quando entram as apostas no pedaço. De um jogo inocente, ou pelo mero prazer de ganhar, nasce um jogo de azar. A palavra azar é apropriada, pois é má sorte, infortúnio, enguiço, infelicidade. As apostas podem ser uma peça de roupa a ser tirada, ou dinheiro. O caminho se aprofunda e sai totalmente do controle do jogador. Torna-se escravo compulsivo e obstinado do vício e do sistema. Com a ilusão do ganho fácil, muito arruinaram rapidamente as riquezas conquistadas duramente pelas famílias ao longo de décadas. Junto com a jogatina, nascem a dependência química e muitas outras desgraças fáceis de serem testemunhadas ao redor na sociedade.
Por essa breve reflexão, compreendi que o jogo de baralho não convém, nem edifica, razão pela qual não me deixarei dominar por ele. Existe muita alternativa mais saudável para nos divertirmos sem tantos riscos. Divirta-se com consciência!

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